domingo, 16 de novembro de 2008

Final feliz

Mudo, sem começo, apenas uma pretensão,
no chão circular,
concêntrico,
sem sair do lugar,
avançar no tempo
como um pião...

Giro, assim me deixo
até à tontura
e à agonia da volta,
tão clara como escura,
fosso que cavo
agarrado ao meu eixo...

Acabo como principío,
na mão de uma criança,
pequena, esguia,
para reiniciar a dança;
de só no tempo avançar...
na soltura de um fio.

Rodopio...

sábado, 8 de novembro de 2008

erosão


A força do grito
dispensa do eco a presença,
o ferimento monocórdico
e insidioso.


A lágrima
cava mais um sulco no rosto
enrugado,
na profundidade do grito.


A mágoa,
da nascente à foz,
corre na cama pedregosa,
aluvião.


Desgaste a desgaste,
haverá quem não se arraste?
Tudo
é erosão.

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Véus e Grinaldas

Junto à ponte
onde a outra margem é o vazio,
alimenta-se um bocejo
na imensidão do nada.
Ar.

Janela de quarto crescente,
ondas, vagas, desertos,
árvores onde se fazem ninhos,
nascem passarinhos,
ardem na fogueira.

Jaz uma dor,
ordem da cor do infinito...
ama
na saúde e na doença,
além de ti...

domingo, 2 de novembro de 2008

Dourados

Há muito, muito tempo,
quando rimar era obrigação,
rimei.
Quando já não era
rimei à mesma...
Sem a rima perco o tino,
o tino se perde.
Agora já não escrevo,
logo não rimo,
mas estimo
ver uma rima solta por acaso
da caneta de alguém
que é amado sem saber.
Para que tudo valha a pena.

"Atenção senhores passageiros
à passagem
de um comboio
sem paragem!"

In Refer

sábado, 1 de novembro de 2008

verdadeirasementes

Tens no fio da navalha
o sabor acre do metal,
meio doce;
no pó da limalha,
o instinto animal:
sentimento de posse.
Com a verdade me enganas;
com a mentira te revelas,
de formas ardentes...
Mil vezes mais humanas
e belas,
és verdadeira se mentes.